A decisão de restringir ainda mais a escuta telefônica pela Justiça contra investigados e suspeitos premia ladrões de colarinho branco e membros de organizações criminosas. Depois de conseguir o afastamento de Paulo Lacerda da direção da ABIN, o senhor Daniel Dantas – um dos homens mais bem relacionados com o poder desde o governo FHC – agora coroa de êxito a operação “Desmancha Satiagraha”.
De agora em diante terá que constar da autorização policial para o grampo o nome de quem a solicitou, o que, obviamente, deixa vulnerável o magistrado. Além disso, foi criada uma central para controlar os grampos, o que pode levar à punição do juiz por número excessivo de escutas.
Ora, qual juiz vai imprimir seu nome num papel, em investigações que envolvem crimes do colarinho branco, sabendo que poderá ser alvo das mesmas máfias que pretende investigar? Quem garante que a informação não será repassada ao investigado?
O curioso é que a causa de todo esse “mar de indignação” em Brasília foi a gravação de um diálogo telefônico entre o Presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM/GO), até agora não pode ser atribuída a nenhum servidor em atividade ou órgão supostamente implicado, no caso a Polícia Federal e a Abin.
No entanto, atendendo aos inúmeros pedidos (da oposição e do governo), o Presidente Lula afastou justamente o diretor da ABIN, Paulo Lacerda, que já fora afastado da PF. Curioso que durante a gestão deste mesmo Lacerda a frente da PF, tenham sido detidos cerca de 6 mil criminosos de colarinho branco.
Para o seu lugar foi nomeado o senhor Wilson Trezza, justamente um ex-funcionário da Brasil Telecom, uma das empresas do Grupo Opportunity, do senhor Daniel Dantas. Na certa mais uma coincidência...
Alívio para Daniel Dantas e todos os piratas da República, inclusive gente graúda ligada ao Planalto, como o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalg (atual advogado do Opportunity), Gilberto Carvalho (secretário de Lula) e outros beneficiários dos mensalões da vida.
Colarinho em Brasília e milícia no Rio
Enquanto em Brasília os colarinhos brancos debatem como aplacar a atuação dos órgãos de segurança, que atuam sob orientação legal da Justiça e do Ministério Público, no Rio mais e mais nomes de parlamentares vêm à tona como cúmplices e beneficiários de milícias.
O recente depoimento de Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho (vereador do DEM), um dos chefes da milícia que controla a favela Rio das Pedras, colocou mais lenha na fogueira e atingiu figuras que até então passaram incólumes nas investigações.
A CPI só foi instalada diante de reportagem do jornal O Dia, que teve uma equipe seqüestrada e torturada por integrantes da milícia conhecida por Liga da Justiça, numa favela da Zona Oeste. Dois de seus chefes são os irmãos Jerominho (PMDB) e Natalino (DEM), vereador e deputado estadual, respectivamente.
A partir da instalação da CPI, presidida pelo deputado Marcelo Freixo (Psol), foi possível encontrar conexões com outros grupos, como a milícia do deputado estadual do PT, Jorge Babu, que atua em Guaratiba, e a que opera nas comunidades de Rio das Pedras e Gardênia Azul, Jacarepaguá.
Certamente isolado e sem apoio do governador, do prefeito e dos colegas que ajudou a eleger, Nadinho resolveu soltar o verbo. Juntamente com o bombeiro Cristiano Girão, também candidato a vereador pelo PMN, Nadinho deu nomes aos bois e revelou que trabalhou como assessor de Eduardo Paes (atual candidato a prefeito pelo PMDB) na época em que este era subprefeito em sua região.
Presidente da CPI dos Grampos e ex-chefe de polícia na lista
De acordo com Nadinho e Girão vários parlamentares se beneficiaram do curral eleitoral das milícias em Jacarepaguá, inclusive o filho do atual prefeito César Maia, o deputado federal pelo DEM, Rodrigo Maia, que obteve 3.386 votos nas últimas eleições nas urnas que incluem Rio das Pedras e Gardênia Azul.
Também foram citados como beneficiários diretos os deputados Rodrigo Bethlem/DEM (2.516 votos), João Pedro Figueira (DEM), além de Domingos Brazão/PMDB (4.868 votos) e o deputado cassado e ex-chefe de polícia do estado, Álvaro Lins (PMDB).
Outros dois deputados federais também foram citados como beneficiários do voto de cabresto das milícias: o ex-delegado da PF, ex-secretário de segurança no governo Garotinho e atual presidente da CPI dos grampos, Marcelo Itagiba (PMDB), e a delegada de polícia Marina Magessi / PPS (697 votos). O agravante nesses casos é que ambos eram autoridades do Poder Executivo na área de segurança pública, portanto, em tese deveriam coibir a organização criminosa e não contar com seu apoio.
As revelações cada vez mais graves e as medidas adotadas para conter processos e relaxar prisões de criminosos de colarinho branco atestam o perigoso dilema em que se encontra a República: aplicar a Lei a quem quer que seja ou se render de vez a poderosas máfias incrustadas nos três poderes.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Grampos monitorados: alívio para colarinhos brancos e milicianos
Publicado Por henrique às 08:17