MTL-Democrático e Independente

O Movimento Terra, Trabalho e Liberdade - Democrático e Independente (MTL-DI) é um movimento popular autônomo e independente de partidos e governos, que organiza trabalhadores do campo e da cidade, por terra, moradia e vida digna.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Campo Florido: uma cidade devastada pela cana

Por Alexandre Ferreira, do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade – Democrático e Independente (MTL-DI)

O MTL-DI e o Sindicato Rural de Campo Florido vêm à público denunciar as relações de trabalho absurdas geradas pela cana-de-açucar, que há séculos gera pobreza para muitos e riqueza para alguns no solo brasileiro. Agora ela está de volta, mais forte que nunca como política nacional (Etanol e açucar).

O sol ainda não clareou e chegam mais algumas dezenas de trabalhadores, de diferentes partes do país com a esperança de trabalho. O pequeno município de Campo Florido no triângulo mineiro, não tem mais flores. Além dos quatro assentamentos da reforma agrária, algumas ruas de terra, um posto de gasolina sem cobertura e um pequeno comércio local, um imenso canavial fonte inesgotável de riqueza para a Usina e de brutal miséria para milhares de pessoas.

Estima-se que hoje Campo Florido, município de seis mil habitantes, tenha cerca de mil novos trabalhadores desempregados, número que vem engrossando com os que chegam diariamente. As condições de moradia são as mais precárias possíveis. Em uma pequena casa moram cerca de 15 trabalhadores, que pagam cerca de cem reais cada um, e o comércio local se inflacionou como nunca antes.

De onde surgiram essas pessoas? Mistério. A usina diz não saber. Alguns trabalhadores afirmam ter “chegado sozinho”. O fato é que uma multidão de sozinhos, arregimentados por ilusões, inclusive se endividando para pagar o transporte, estão desesperados, desempregados e sem ter como voltar para sua cidade natal, onde famílias esperam por seu sustento.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Campo Florido que vem denunciando esta situação, além de denunciar às condições de trabalho degradante, passou a ser atacado, como o causador do desemprego. Por exigir que as condições de trabalho garantidas por lei sejam cumpridas.

O Ministério Público do Trabalho, Promotoria de Uberlândia, recomendou que as Usinas e os seus fornecedores de cana contratem somente trabalhadores com residência fixa em Campo Florido (com comprovante de residência/eleitoral). Mas a cidade não tem o número de trabalhadores suficientes. Então passa a ser dever das empresas contratarem os trabalhadores em seu local de residência, pagar seu transporte (ida e volta), fornecer alojamento e condições dignas de trabalho. Por essa posição o Ministério Público também vem sendo criticado.

Fica necessário perguntar: quem lucra com essa situação? O grande número de desempregados que puxa os salários ao chão; a vantagem de não precisar buscar os trabalhadores; tudo isso interessa a quem? Os trabalhadores, o STR, movimentos sociais como o MTL-DI, não ficarão parados. A luta contra 500 anos de devastação feita pela cana-de-açúcar e da exploração de nosso povo não acabou, e só terminará quando as flores estiverem novamente crescendo em Campo Florido e onde houver o latifúndio.

Carta Aberta à população de Campo Florido

Por STR-Campo Florido

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Campo Florido vem à público exigir das autoridades a garantia do cumprimento dos direitos de centenas de trabalhadores do corte de cana.

A Constituição Brasileira garante a todos os brasileiros condições de vida digna e trabalho honesto em condições decentes.

Não é de hoje que vimos nas TV?s, rádios e jornais notícias relatando trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar de forma degradante, em alguns locais em condições iguais a de trabalho escravo e com mortes por esgotamento.

Em face de casos como estes, ocorridos em cidade da região, com objetivo de se evitar que em nossa cidade venhamos a conviver com tão lamentável realidade e com objetivo de se fazer garantir o cumprimento da legislação trabalhista, o Ministério Público do Trabalho, Promotoria de Uberlândia, recomendou que as Usinas e os seus fornecedores de cana contratem somente trabalhadores com residência fixa em Campo Florido (com comprovante de residência/eleitoral). Como na cidade não há trabalhadores rurais em números suficientes para atender a demanda de mão de obra, o Ministério Público determinou, sob pena de abertura de processos trabalhistas e criminais, que as Usinas e os condomínios só tragam para cidade trabalhadores depois de registrá-los e com eles celebrar contrato com as condições de trabalho, garantindo-lhes o transporte de ida e volta, alimentação e alojamento.

Diante deste fato nos deparamos com uma realidade preocupante: praticamente duas centenas de trabalhadores da região nordeste e norte de Minas Gerais, sem saber das novas exigências do Ministério Público do Trabalho têm chegado à nossa cidade, sem contundo serem contratados pela a Usina e pelos produtores/fornecedores de cana.

Nossa preocupação é no sentido de que se esses trabalhadores não conseguirem emprego, poderá começar a surgir problemas sociais sérissimos em nossa cidade, o que é ruim para eles e para a população de um modo geral.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Florido desde então está tentando todos os meios para solucionar a questão, sendo que em face da posição intransigente do Ministério Público no sentido de defender suas medidas como forma de defender os direitos trabalhistas, chegou junto com os trabalhadores interessados a uma posição intermediária, qual seja:

EXIGIR A CONTRATAÇÃO PELA USINA E POR SEUS FORNECEDORES DOS TRABALHADORES QUE AQUI ESTÃO E CHEGARAM POR CONTA PRÓPRIA, GARANTINDO-LHES TODOS OS DIREITOS EXIGIDOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, ISTO É, CARTEIRA ASSINADA, ALOJAMENTO, ALIMENTAÇÃO, DESPESAS COM TRANSPORTE POR CONTA DOS PATRÕES (COM RESSARCIMENTO DOS VALORES GASTOS POR ESTES TRABALHADORES COM A VINDA À CAMPO FLORIDO).

Apresentamos nossa proposta para o Ministério Público, que demonstrou receptividade à mesma, ficando de apresentar resposta nos próximos dias e, ainda, para a Usina Coruripe e para a Cana Campo, dos quais aguardamos posicionamento.

E assim sendo, conclamamos o povo de Campo Florido, inclusive o senhor Prefeito e os senhores Vereadores, para evitar que os trabalhadores desempregados se tornem problemas na vida de todos, a apoiarem nossa proposta e exigir da Usina e dos produtores/fornecedores a imediata contratação destas pessoas nos termos exigidos pelo nosso Sindicato.

SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE CAMPO FLORIDO

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Nota à sociedade: A cana o e trabalho degradante em Campo Florido - MG

Por STR de Campo Florido e Comunicação MTL-DI

Campo Florido (MG), cidade de 6 mil habitantes, está sendo bombardeada pela cana-de-açucar e relações de trabalho semi-escravo e trabalho degradante. A cidade se vê sitiada por uma multidão trazida de diversas partes do país com a ilusão do emprego prometido.


Assembléia do STR de Campo Florido, ontem 27/02/2008

NOTA À SOCIEDADE


O Sinidicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Florido, vem a público noticiar à imprensa e à sociedade de modo geral, a situação dos trabalhadores imigrantes nesta fase de contratação, por parte das empresas do setor sucroalcooleiro.

O Ministério Público do Trabalho tem sido intransigente na vigilancia à legislação pertinente a contratação de força de trabalho de pessoas fora de suas regiões de origem. A contratação fora dos critérios caracteriza aliciamento.

Campo Florido, cidade com pouco mais de 6 mil habitantes, se vê "da noite pro dia" com uma multidão de trabalhadores, oriúndos de diversas partes do Brasil, trazidos não se sabe por quem, reclamando por emprego e condições de vida digna e de trabalho.

Ao STR ( Sindicato de Trabalhadores Rurais) cabe o paple de apoiar, defender e organizar os trabalhadores na defesa de seus direitos, cobrando das autoridades, sejam municipais, estaduais ou federais, do judiciário e do legislativo, bem com das empresas do setor solução para o problema.

O STR não compactua com situação que exponha trabalhadores à insegurança, à degradação e humilhação. Portanto nos dirigimos à sociedade organizada, à sociedade organizada e à imprensa, para solicitar apoio, solidariedade e para dar notoriedade aos fatos e buscar soluções para a problemática.

Telefone de contato: (34) 3322-0897
E-mail: sindicatotrcflorido@yahoo.com.br

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

SOLIDARIEDADE À CAMPO FLORIDO

Por Barroso do STR de Campo Florido e do MTL-DI

Companheiros,

Segue o relato sobre contratação de trabalhadores migrantes, ou seja, fora da cidade de origem, que se não respeitar a legislação caracteriza-se como aliciamento e porta aberta para o trabalho escravo. Estamos numa situação muito delicada e precisamos de apoio político urgentemente.

Se por um lado temos as resoluções do MP, e diga-se de passagem, o que há de mais confiável no Estado Burguês, no momento, fiscalizando rigorosamente, por outro temos à porta do sindicato uma multidão de trabalhadores de várias partes do Brasil, que aqui chegaram na expectativa de trabalho, várias pessoas há mais de meses, e estão sem trabalho, se alojando em condições precaríssimas, se endividando no comércio local. Muitos já desejam retornar às localidades de origem, mas sem recursos para o retorno.

Na sexta-feira, dia 22, fizemos uma assembléia no pátio do STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais) de Campo Florido com mais 200 pessoas e a cada dia chega mais gente e, sempre nesse rolo compressor de exigir soluções por parte do sindicato. Entendemos que o papel do sindicato não é o de referendar contratações massivas, convenientes à patronal, e com a chancela da reacionária e servil DRT (Delegacia Regional do Trabalho) de Uberaba, mas de convocar esses trabalhadores pra lutar por direitos e dignidade.

A responsabilidade política que está colocada vai além da capacidade político-organizativa deste, combativo porém humilde, sindicato de trabalhadores rurais, de uma cidadezinha de 6 mil habitantes que, da noite para o dia se vê num barril de pólvora, com cerca de 1000 ( mil ) trabalhadores esfomeados e desesperados. Aqui estamos presenciando um caso que está se tornando emblemático: UM TRABALHADOR JOVEM, DO ESTADO DE SERGIPE, AQUI CHEGOU DEIXANDO NA SUA TERRA DE ORIGEM, A MULHER PRA DAR À LUZ AO 1° FILHO D'AQUI A 6 MESES, E AGUARDANDO A 1° REMESSA DE DINHEIRO PROVENIENTE DO CORTE DE CANA. RAPAZ NÃO SABE O QUE FAZER E PEDE SOCORRO.

Aguardamos a imediata solidariedade política de todas as entidades de luta e todos aqueles comprometidos com a classe trabalhadora.

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Florido-MG
Rua Itagura, n°25 B. Vila Junqueira
Cep. 38.100.000
Fone: 34-3322-0897
EMAL:
sindicatotrcflorido @yahoo.com. br


Luiz Carlos Barroso Galante
STR - Campo Florido
Coordenação Nacional do MTL - Democrático e Independente

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

COMUNICADO: OCUPAÇÃO DA FAZENDA FORTALEZA

Por Zelito - GO

Comunicamos, que cerca de 60 famílias, organizadas no MTL-DI ocuparam na madruga de sábado dia 23/02 2008, pela quarta vez a Fazenda Fortaleza denominada Água Branca, localizada em Rio Verde.

A propriedade é de aproximadamente 1200 há e esta seqüestrada pela justiça federal em um processo contra o proprietário SR. MARCELO LAMBERTE, movido pela fazenda pública por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisa no 4º tribunal da 2º região de CURITIBA PR .

O movimento reivindica que o INCRA, interceda junto ao juiz responsável pelo processo para que a área seja destinada para reforma agrária .


ZELITO PELA COORDENAÇAO ESTADUAL DO MTL-DI.
CONTATO 062 – 3093-7572 / 062- 84126373.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A DÍVIDA PÚBLICA NÃO ACABOU!

Por Rodrigo Vieira de Ávila - Economista da Campanha Auditoria Cidadã da Dívida- Rede Jubileu Sul Brasil

Acúmulo de Reservas Cambiais = Farra dos Especuladores e Explosão da Dívida Interna

Depois de divulgar amplamente o pagamento antecipado ao FMI, em 2005, dia 21 de fevereiro de 2008 o governo anunciou mais um suposto marco histórico: o de que os ativos do país no exterior, constituídos fundamentalmente pelas reservas internacionais, superaram a dívida externa pública e privada. Alega o governo que esta é uma evidência da superação do problema da dívida.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que este suposto recorde não passa de manipulação estatística, originada em 2001, durante o Governo FHC, e perpetuada no governo Lula: a exclusão dos empréstimos intercompanhia (dívidas de filiais de transnacionais no Brasil com suas matrizes no exterior) do cálculo da dívida externa. Estes empréstimos dobraram em 2007, passando de US$ 20 bilhões para US$ 42 bilhões, mas são ignorados pelo governo, para que possa propalar um suposto marco histórico.

Em segundo lugar, o que está por trás deste acúmulo desenfreado de reservas cambiais? Uma verdadeira farra dos especuladores nacionais e estrangeiros, que trazem seus dólares em massa ao Brasil para comprar títulos da dívida ?interna?, em busca dos juros mais altos do mundo. O
resultado disto é a explosão da dívida interna, que atingiu R$ 1,4 TRILHÃO em dezembro de 2007, tendo crescido 40% em apenas 2 anos!

Em 2007, o governo federal gastou R$ 237 bilhões com juros e amortizações da dívida interna e externa (sem contar o refinanciamento, ou seja, a chamada ?rolagem? da dívida), enquanto apenas gastou R$ 40 bilhões com a saúde, R$ 20 bilhões com a educação e R$ 3,5 bilhões com a Reforma Agrária. E o governo ainda tem coragem de afirmar que a dívida não é problema!

Conforme denunciado na 3ª Edição da Cartilha ?ABC da Dívida? (que estará sendo lançada em breve pela Campanha Auditoria Cidadã da Dívida / Rede Jubileu Sul Brasil), a recente isenção fiscal de Imposto de Renda sobre os ganhos dos estrangeiros, o estabelecimento e a manutenção de taxas de juros altíssimas, e a total liberdade de movimentação de capitais têm gerado as condições para um verdadeiro ataque especulativo contra o Brasil.

Os investidores estrangeiros trazem seus dólares para investir na Bolsa e em títulos da dívida interna, e assim forçam a desvalorização do dólar frente à moeda brasileira (o Real). Os bancos e empresas nacionais também se aproveitam disso, tomando empréstimos no exterior (mais baratos devido às baixas taxas de juros) para emprestar ao governo brasileiro, por meio da compra de títulos da dívida interna, recebendo uma fortuna em troca disso, devido às altíssimas taxas de juros do Brasil.

Não há limite algum para estas operações, e o Banco Central (BC) compra estes dólares e fornece títulos da dívida interna de acordo com o fluxo de moeda estrangeira ao país. Quando recebem seus lucros e juros em reais, os investidores podem trocá-los por maior quantidade de dólares ? uma vez que a moeda brasileira se valorizou ? e assim cumprir seus compromissos com o exterior, tendo um lucro extra.

Em 2007, o Real se valorizou 20% frente ao dólar. Portanto, o investidor estrangeiro que no início de 2007 trouxe dólares para aplicar na dívida interna brasileira ganhou, durante o ano, 13% em média de juros, e mais 20% quando converteu seus ganhos em dólar. Portanto, em 2007, os estrangeiros ganharam uma taxa real de juros (em dólar) de mais de 30% ao ano!

Por outro lado, o Banco Central, comprando a moeda estrangeira trazida pelos especuladores, termina ficando com o mico, ou seja, o dólar, que está se desvalorizando. O BC também aplica os dólares (recebidos dos investidores e exportadores), só que em títulos do Tesouro Americano (que ajudam Bush a financiar seu déficit e suas políticas, como a invasão do Iraque), que rendem perto de um terço dos juros pagos pelo governo brasileiro pelos títulos da dívida interna. Além do mais, como o dólar está em forte desvalorização, os juros pagos pelo Tesouro Americano são, na realidade, negativos para nós.

O resultado disto tudo é um imenso prejuízo para o Banco Central: chegou a R$ 58,5 bilhões apenas de janeiro a outubro de 2007. Este prejuízo é bancado pelo Tesouro Nacional, e correspondeu ao dobro de todos os gastos federais com saúde no mesmo período. Por outro lado, os banqueiros, que se beneficiam desta manobra, não páram de bater recordes de lucro.

Portanto, este suposto marco histórico divulgado pelo governo esconde, na realidade, uma verdadeira reciclagem do velho mecanismo de espoliação da dívida externa, com uma nova máscara: o endividamento ?interno?. Este mecanismo é altamente rentável aos investidores estrangeiros, uma vez que, desta forma, eles ficam imunes à desvalorização da moeda americana, recebendo seus lucros e juros em uma moeda que não pára de se fortalecer frente ao dólar.

Além do mais, quando o governo alega que possui recursos para pagar toda a dívida externa, faz uma apologia ao pagamento de uma dívida ilegítima e já paga várias vezes com o sangue e suor do povo, desde os anos 80, quando os EUA, de modo unilateral e ilegítimo, multiplicou as taxas de juros incidentes sobre a dívida externa, levando o Terceiro Mundo à recessão e ao desemprego.

Não há saída para o endividamento sem uma ampla e profunda auditoria, que quantifique quantas vezes já pagamos esta dívida e a que custo social e ambiental. Somente assim poderemos nos libertar dessa amarra que continua nos aprisionando, apesar do governo prosseguir em sua manobra diversionista, tentando sistematicamente, através da divulgação de dados manipulados e parciais, desqualificar os movimentos sociais em favor da auditoria da dívida, na tentativa de esconder que o endividamento continua sendo, cada vez mais, o centro dos problemas nacionais.

Rodrigo Vieira de Ávila
Economista da Campanha Auditoria Cidadã da Dívida- Rede Jubileu Sul Brasil
22/02/2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Conhecimento: A arma do povo

Texto Alexandre Ferreira. Fotos Alexandre e Ronaldo.


Entre os dias 2 e 5 de fevereiro, em pleno Carnaval, cerca de 40 companheiros do campo e da cidade se reuniram para uma festa diferente: a festa do conhecimento.

Trata-se de um curso conjunto entre o MTL-DI, o MPRA (Movimento Popular pela Reforma Agrária) e o Coletivo Liberdade Socialista, que aconteceu na Universidade Federal de Uberlândia, com apoio do DCE.
Foram abordados temas complexos, como Economia Política Marxixta, Lógica Formal e Lógica Dialética, e o Balanço das experiências socialistas do século XX.
Depois de três dias puxados de muita leitura e debates os trabalhadores do campo e da cidade visitaram o Assentamento Nova Cachoeirinha, no município de Prata, próximo à Uberlândia. Houveram conversas com os assentados, reencontro com os companheiros de luta, e muita música.
Em breve será realizado mais um curso. Agora sobre a "história das lutas sociais no Brasil". Porque luta se faz com garra e coragem. Mas também com conhecimento.

Em Minas, trabalhadores rurais garantem conquistas com greve

Adriano Espíndola de Uberaba (MG), especialista em Direito do Trabalho, membro do coletivo jurídico da Conlutas. Autor do blog defesadotrabalhador.blogspot.com
www.pstu.org.br

Cerca de 150 trabalhadores rurais estiveram em greve, por três dias, em Campo Florido, interior de Minas Gerais. São empregados de uma das usinas da região que trabalham no cultivo de cana-de-açúcar. A greve foi deflagrada por conta do descumprimento de regras de segurança do trabalho e, principalmente, por irregularidades no pagamento dos trabalhadores.

Após três dias de greve, os trabalhadores obtiveram importantes vitórias. Foi conquistada a garantia de pagamento de piso salarial de R$ 690,00, um dos maiores do setor na região, e, ainda, a imediata correção dos problemas com transporte e EPIs. Foi também garantido o pagamento integral dos salários dos dias parados e a estabilidade dos grevistas até a próxima negociação coletiva, que ocorrerá entre os meses de abril e maio do corrente ano.

Ao final foi formada uma comissão de trabalhadores a partir da qual o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Florido, entidade comprometida com a construção da Conlutas, investirá na formação política da categoria, objetivando ganhar os melhores ativistas para a vanguarda da luta política e econômica dos trabalhadores.

Das negociações participou além do próprio Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Conlutas Regional Triângulo Mineiro, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg) e uma comissão de trabalhadores eleita democraticamente na base.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Indústria das Escolas de Samba x Carnaval carioca*

Mais uma vez a Beija-Flor de Nilópolis é a campeã do Carnaval das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Surpresa? Nenhuma. Deu a lógica, a lógica de um desfile profissionalizado, em que vence quem “errar menos”. Nesse caso “errar” quer dizer transgredir as rígidas regras da competição.

Mais importante que criticar a Beija-Flor e seus desfiles técnicos é compreender porque chegamos a este espetáculo previsível em que se transformou o desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial.

Origens

O Carnaval carioca tem diversas raízes. As mais expressivas são as contribuições lusitana e africana. Vem do Entrudo, tradição européia e lusitana em que limões cheirosos eram atirados nos transeuntes pelas ruas durante o período do Carnaval. Mais tarde os limões foram sendo substituídos até chegar ao confete, no que se convencionou chamar de batalhas de confetes no Rio. Aqui, em especial, surgiu um personagem folclórico, um comerciante apelidado de Zé Pereira, que saia pelas ruas do Centro da Cidade batucando numa barrica.

Os carnavais do início do século XX eram comemorados pela classe média carioca com bailes de clubes e associações, como o Tenentes do Diabo e o Democráticos. As elites também tinham seus espaços nos Corsos, Ranchos e Grandes Sociedades, em carros luxuosos desfilando pela cidade.

Mais tarde, com o advento do rádio e das emissoras de massas (Rádio Nacional e outras), foram instituídos os concursos de marchinhas de Carnaval. Foram essas marchinhas – muitas das quais com sátiras sociais e políticas – que embalaram os carnavais cariocas por algumas décadas e projetaram compositores e cantores famosos da MPB nas décadas de 30, 40 e 50.

E o povão, a “negrada”, os pobres? Que espaços estavam destinados a essa parcela majoritária da população durante o Carnaval? O samba sempre foi considerado gênero musical de segunda categoria, baseado no ritmo, coisa de negro, herança de escravos iletrados e de gosto duvidoso. Há quem afirme que o samba é também um ritmo que está intimamente ligado às tradições religiosas dos afro-brasileiros. Seria uma espécie de “transe”.

A denominação “Escola de Samba”, fora o folclore que ronda sua história, foi uma forma que os sambistas, até então marginalizados, encontraram de dar respeitabilidade à sua música e às manifestações culturais dos pobres, negros e favelados. O sambista, o capoeirista o trabalhador em geral sempre foram mal vistos ao olhar elitista e preconceituoso. As manifestações culturais dessa “gentalha” eram frequentemente dissolvidas pela polícia, seus membros detidos e fichados.

Escolas de Samba

Foi no primeiro governo Vargas que as Escolas de Samba passaram a ser reconhecidas e toleradas pelo poder público como manifestação cultural. O primeiro concurso (1935) teve o apoio do Jornal do Brasil e ocorreu na Praça 11, velho local de tradição popular no Centro do Rio.

As Escolas ainda desfilavam com poucos componentes, o samba até então era puxado no gogó pelos compositores e muitos eram apenas temas com refrões, que permitiam o improviso aos desfilantes. O desfile era marcado nas palmas das mãos, com pouquíssimos instrumentos de percussão improvisados, daí a origem da colher-de-pau e da frigideira que algumas escolas preservam até hoje em suas baterias.

O concurso não só serviu para dar um ar oficial aos desfiles, como também introduziu o elemento da rivalidade e da competição. Passou-se a adotar enredos a serem cantados e descritos durante o desfile, o número de componentes aumentou e o ritmo começou a ficar mais uniforme e mais importante, dando origem às primeiras baterias.

Mas as Escolas de Samba não eram apenas instituições voltadas exclusivamente para o Carnaval. Nelas aconteciam durante todo o ano as rodas de samba, nas quais os compositores apresentavam as canções que não conseguiam gravar porque as gravadoras não lhes abriam espaços. Mais tarde surgiram também os concursos de samba-de-quadra. Nas quadras, encravadas nas favelas que davam origem às Escolas, havia toda uma vivência cultural e artística do local, com a mistura de música, ritmos, cultos religiosos e culinária de origem africana e popular.

Cartola, Nelson Cavaquinho, Mano Décio, Silas de Oliveira, Paulo da Portela e tantos outros grandes sambistas só passaram a ser conhecidos muito tempo depois, quando a classe média da Zona Sul passou a reconhecer suas composições. Figura importante para isso, diga-se de passagem, é Beth Carvalho, que largou a Bossa Nova e abraçou o samba, gravando composições de muitos desses bambas e projetando-os na mídia. Foi com ela que muitos sambistas que já estavam esquecidos retomaram a carreira.

Isso também foi possível porque no início dos anos 60 um jovem formado na Escola de Belas Artes da Universidade do Brasil, Fernando Pamplona, resolveu enveredar pelo caminho da arte carnavalesca. Pamplona foi parar no Salgueiro e se apaixonou pelo ambiente sócio-cultural e artístico que cercava a Escola de Samba.

Para os desfiles levou alguns de seus conhecimentos básicos de estética e arte, o que deu origem ao famoso slogan “Nem melhor, nem pior, apenas uma Escola diferente”. Foi dele a idéia de utilizar adereços de mão, de fazer dos carros alegóricos elementos importantes para a descrição de um enredo. Mas Pamplona sempre foi um sujeito simples, que gostava de conhecer as tradições e origens dos elementos que o cercavam. Pesquisava, conversava com as pessoas na comunidade, procurava entender o que se passava.

Seu trabalho despertou a curiosidade de outras Escolas e de colegas que acabaram sendo convidados para integrá-las. Daí surgiu Arlindo Rodrigues, Renato Lage, Joãozinho Trinta, Rosa Magalhães, Max Nunes, etc. Até os anos 70 o carnavalesco trabalhava em função do que a Escola de Samba determinava. O enredo era decidido pela direção da Escola, algumas consultando as figuras mais tradicionais de suas agremiações. Ao carnavalesco era reservado o papel de sugerir temas, desenvolver o enredo, desenhar fantasias e alegorias, coordenar costureiras, ferreiros e marceneiros nos barracões.

O Sambódromo e a TV Globo

Até então os desfiles só eram transmitidos pelas emissoras de rádio. A partir dos anos 80, com a construção do Sambódromo e a entrada da TV Globo, cresceu de importância o aspecto plástico dos desfiles. Alegorias, Adereços e Fantasia que tinham peso menor entre os quesitos dos concursos de Escolas de Samba, passaram a ter o mesmo valor que Enredo, Samba-Enredo, Harmonia, Bateria e Mestre-Sala/Porta Bandeira. Até a famigerada Comissão de Frente obteve o status de quesito com o mesmo peso no julgamento que os demais.

A classe média, até então restrita às arquibancadas, desceu e tomou conta da avenida. Muitos batem no peito que são de tal ou qual agremiação, sem saber ao certo o samba ou sequer em que lugar elas nasceram. As fantasias, cada vez mais caras, passaram a ser parte de um pacote turístico e vendidas a estrangeiros, que nada têm a ver com as escolas. Criou-se uma verdadeira indústria do Carnaval, com barracões funcionando em ritmo empresarial ao menos seis meses ao ano.

É a partir daí que a figura do Carnavalesco assume a proporção de semi-deus nas Escolas de Samba. As antigas quadras, nas favelas e imediações, são abandonadas e novas quadras são erguidas no asfalto para atrair a freqüência da classe média e de políticos e personalidades. Os carnavalescos são contratados a peso de ouro pelas Escolas, que passam a perseguir uma estética requintada, mais ao gosto dos salões que dos cordões. As alegorias passam a ter tamanhos cada vez maiores em comprimento, largura e, principalmente, em altura, com a verticalização dos desfiles.

Os carnavalescos deixam de ser parte da equipe de Carnaval para se tornarem as figuras de maior importância das agremiações, passando inclusive a ser porta-vozes da Escola, no lugar de seus presidentes. São eles os convidados a dar entrevistas e a explicar os complicados enredos que pretendem desenvolver. As fantasias deixam de ser um aspecto a mais do desfile, tornando-se um martírio para os componentes, com resplendores, penas e muito peso.

A exclusividade da transmissão do desfile deu à Rede Globo um trunfo duplo em relação ao espetáculo: coloca as Escolas sob as rédeas da emissora e gera um lucro estrondoso na venda de espaços de publicidade em sua programação e das imagens para mais de 100 países. Não por acaso esse contrato é mantido a sete chaves, o que faz com que a emissora não sinta qualquer constrangimento em ver os “patronos” das Escolas, bicheiros e contraventores de toda ordem, durante os desfiles e na apuração.

A promoção de atores, atrizes e modelos nos desfiles certamente estão incluídas no pacote de transmissão global. Chega a ser um escândalo o espaço dedicado nas transmissões a essas figuras patéticas em detrimento do tempo de aparição de ritmistas, passistas e figuras de maior expressão do samba.

Diga-se de passagem, que a cobertura dos desfiles por outros veículos de comunicação (jornais e revistas, principalmente), via de regra escorrega nesta mesma superficialidade. Pouco é o espaço dedicado à crítica dos desfiles e muito para fotos de rainhas e madrinhas de bateria.

No entanto, a Globo procura manter certo padrão no “negócio”. Os acontecimentos que revelam o envolvimento direto do tráfico varejista de drogas com a Mangueira no final do ano passado conturbaram o ambiente e por certo tiveram influência nas notas exageradamente baixas que a Escola obteve no concurso de 2008. A Globo não aceita negociar diretamente com o tráfico varejista, comandado por pés rapados. Sua intervenção no caso é nitidamente no sentido de mudar os interlocutores da Mangueira.

A grandiosidade do espetáculo engoliu os sambistas, compositores, velhas-guardas, passistas, baianas e simples componentes das antigas Escolas de Samba. Nem mesmo as cores das Escolas são respeitadas. A única parte que ainda não foi alterada ou substituída em qualidade foi a bateria, até porque sua alma não pode ser comercializada. Os ritmistas são formados com o samba nas veias, que transmitem para os instrumentos. Mas poderemos chegar a um tempo em que DJs vão mixar o som das baterias, sem a necessidade da presença dos ritmistas nos desfiles.

Super Escolas de Samba S.A., uma definição brilhante do samba campeão do Império Serrano de 1982, é o que vemos passar pela Marquês de Sapucaí de uns vinte carnavais para cá. Por isso, as agremiações que não se adaptarem a esse “profissionalismo” da Beija-Flor serão tragadas pelo tempo. Algumas ensaiam essa tentativa de modernização empresarial, mas se ressentem de uma ingenuidade que só pode ser atribuída à paixão que ainda despertam em seus componentes.

Os bicheiros/bingueiros de hoje nada têm a ver com a folclórica figura de Natal, que brigava na rua pela Portela e empenhava grande parte de seus ganhos na Escola. Os “patronos” não mudaram, simplesmente passaram o Carnaval para as mãos de prepostos e continuam a fazer das agremiações uma forma de lavar dinheiro sujo. No caso da Beija-Flor uma Comissão de Carnaval profissional toma coordena tudo, com um sistema empresarial. Ora, se o desfile é para profissionais, nada melhor que um sistema profissional de gerenciamento para tocar o “negócio”.

O espetáculo proporcionado pelas Escolas de Samba do Grupo Especial na Passarela do Samba acaba por ser reproduzido em menor escala pelas agremiações dos grupos de acesso. Muitas delas são tradicionalíssimas (Em Cima da Hora, Unidos de Lucas, União de Jacarepaguá, etc.) e foram obrigadas a deixar de lado o que tinham de melhor para se adaptar ao esquemão de alegorias, fantasias e comissões de frente. Atravessam hoje o auge de uma crise que parece não ter fim, condenadas à morte. Ocorre que por não terem estrutura para tal acabam apresentando espetáculos caricatos, cópias de péssima qualidade das grandes Escolas.

Alguns blocos tradicionais que enveredaram por este mesmo caminho e se transformaram em Escolas, como os Canários das Laranjeiras e o Flor da Mina do Andaraí, não conseguiram se firmar e estão em franca decadência.

Por que os blocos de rua nasceram e cresceram tanto?

O esquemão das grandes Escolas de Samba e a falta de empenho do poder público em apoiar os blocos tradicionais, como Cacique de Ramos, Bafo da Onça e outros, contribuíram decisivamente para o enfraquecimento e declínio do Carnaval de rua do Rio nos anos 80. A isso se somou, neste mesmo período, uma onda de esvaziamento da cidade, com a saída do Carioca para outros municípios, fazendo do Carnaval uma extensão das férias.

Na contramão do “espetáculo” da Sapucaí estão os blocos de rua, que surgiram a partir do início da década de 90. Em geral esses blocos brotaram de reuniões de grupos de amigos com espírito carnavalesco, que sentiram a necessidade de promover algo que lhes permitisse pular Carnaval de forma espontânea e descontraída.

Carmelitas, Escravos da Mauá, Suvaco de Cristo, Simpatia é Quase Amor, Barbas, Meu Bem eu Volto Já, etc, passaram a atrair a atenção daquele folião que queria brincar o Carnaval sem compromisso com enredos, alas e desfiles uniformes, somente pela necessidade de extravasar sua alegria. O interessante desses blocos é que eles surgem em bairros de classe média, na Zona Sul da cidade, mas são pautados pelo ritmo do samba. Ou seja, o samba continua a ser a marca mais forte do Carnaval.

Os sambas desses blocos retomam a velha irreverência carioca, com a sátira e a crítica política em suas letras. Passados mais de 15 anos de sua existência os blocos de rua deram força a outras manifestações que andavam em decadência, como o velho Cordão da Bola Preta, que desfila pelo Centro, e a Banda de Ipanema, que surgiu no final dos anos sessenta.

Grupos carnavalescos, como o Cordão do Boitatá e Rio Maracatu, apresentam outros ritmos e obtiveram igual sucesso nos últimos carnavais, arrastando milhares de pessoas por onde passam. Outros preferem resgatar marchinhas e obtêm igual sucesso. Nos últimos anos o Carnaval de rua trouxe de volta, inclusive, as fantasias, que andavam esquecidas.

Novos blocos surgiram (Vem ni mim que eu sou Facinha, Que Merda é Essa, etc) e surgem a cada ano e já existe uma coordenação informal desses blocos, a Liga Sebastiana. Seu maior problema hoje é enfrentar o gigantismo dos desfiles sem a infra-estrutura necessária e com os riscos que isso acarreta.

A revitalização do Carnaval de rua no Rio é uma realidade. Tanto é assim que este ano uma fabricante de cerveja não só patrocinou blocos como associou sua marca com a apresentação de propaganda desses blocos na TV. Isso indica que este fenômeno já demonstra peso e força social suficiente para obter a atenção da mídia.

E o futuro?

Muitas podem ser as conclusões a chegar a partir de uma análise do que vem ocorrendo com o Carnaval do Rio. A elitização ainda maior e o esgotamento do espetáculo passivo e midiático da Sapucaí daqui a alguns anos é uma possibilidade, caso não haja alterações importantes em sua lógica e apresentação.

Outra seria o descolamento das Super Escolas de Samba S.A. das demais agremiações, gerando dois espetáculos distintos e estanques, o que de certa maneira já ocorre com os desfiles dos grupos de acesso C, D e E, que desfilam na Intendente Magalhães.

Mesmo os novos blocos poderão passar por crises, visto que seu gigantismo começa a incomodar aos seus próprios fundadores, com o receio de problemas e tragédias. Por outro lado sua independência em relação ao poder público e aos patrocinadores e a mídia é algo que pode não durar, podendo surgir uma espécie de passarela dos blocos (“Blocódromo”?), ao estilo Salvador, com a venda de abadás ou camisetas estilizadas.

Há muitas variantes possíveis para o Carnaval do Rio, mas o mais interessante é que o espírito carnavalesco de festa, confraternização, alegria, espontaneidade presentes na alma do carioca não morreu. As tentativas de enquadrar esse sentimento de liberdade, esse espírito carnavalesco, de tirar proveito do Carnaval carioca enquanto fonte para grandes negócios, esbarra na rebeldia do simples folião das ruas, que voltou a se fantasiar, a brincar o Carnaval como quer, sem cordas e sem aceitar fórmulas pré-concebidas.

Não se deve confundir evolução e renovação com descaracterização e apropriação das manifestações da cultura popular. Em hipótese alguma o problema da perda de identidade das grandes Escolas de Samba se deu pela transmissão da TV, pela construção do Sambódromo ou pela criação da Cidade do Samba. Esses deveriam e poderiam ser elementos para a projeção e melhoria dos desfiles, mas nas mãos de grupos econômicos e da própria LIESA se transformaram em instrumentos para aferir lucros e impor padrões estéticos que nada tem a ver com o samba e as Escolas de Samba.

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* Texto de Henrique Acker (jornalista e radialista)
Fevereiro 2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Contra o novo aumento das tarifas dos transportes coletivos de São Paulo

Por Movimento Passe Livre

Um aumento das tarifas dos trens da CPTM, Metrô e ônibus metropolitanos foi autorizado pelo governador de São Paulo, José Serra, no último dia 30. Para os trens e para o Metrô, o aumento será de 4,35% e para os ônibus será de 3,22% a 3,64%. Os novos valores começam a vigorar no próximo sábado, 9 de fevereiro. O Movimento Passe Livre repudia o reajuste por acreditar que a cada aumento das tarifas dos transportes públicos mais pessoas são excluídas de seu direito de acesso à cidade.

A Secretaria de Transportes Metropolitanos argumenta que o aumento da tarifa está abaixo dos índices de inflação, porém parece ignorar que o salário dos usuários do transporte público não teve essa porcentagem de ganho real. Cabe ressaltar que, se somados os últimos aumentos, a tarifa foi reajustada bem acima do índice de inflação do período.

Além do reajuste estar acima da capacidade financeira de grande parte da população da Região Metropolitana de São Paulo, esta não foi nem ao menos consultada. O governo do Estado aumentou a tarifa de forma arbitrária, sem explicitar e justificar de forma clara as suas motivações e sem dar nenhuma margem para participação e debate. A ausência de debate público evidencia a forma como o transporte coletivo é visto pelos governantes: como um serviço privado, uma mercadoria, e não como um direito de todos.

O governo afirma que o objetivo do aumento é "contribuir para a estabilidade fiscal e para a auto-suficiência do financiamento da operação do Metrô, da CPTM e da EMTU". Por trás desse argumento de ordem técnica, há uma concepção de transporte público na qual quem custeia quase integralmente a tarifa são aqueles que utilizam o serviço e não aqueles que dele se beneficiam. A grande maioria dos que usam o transporte coletivo o faz para chegar ao seu local de trabalho, para procurar emprego, para estudar etc. Por isso, quem realmente se beneficia desse transporte são empresários e industriais, que lucram com a força de trabalho. Nessa concepção de transporte público, a parcela mais rica da população não tem que arcar com a tarifa, onerando os usuários e causando a exclusão dos que não podem pagar.

O poder público paulista tem adotado uma postura de precarização do transporte metropolitano, especialmente do sobre trilhos. O metrô teve quatro panes técnicas em menos de quinze dias provocadas pela falta de manutenção. O aumento do número de usuários nos trens e metrôs não foi acompanhado de uma ampliação da frota, provocando superlotação crescente. Os últimos aumentos não refletiram, como alardeado, em melhorias no serviço prestado. Ou seja, o argumento de que o aumento é necessário para melhorar a qualidade do serviço oferecido não tem base diante do histórico da Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo. Ao que tudo indica, a solução do Governo do Estado para a precarização e a superlotação é a exclusão de usuários do sistema público de transportes, como demonstra a afirmação do governador José Serra de que os reajustes serão anuais.

Mesmo com o crescimento da arrecadação por parte do Estado, os investimentos em melhorias nos transportes públicos continuam muito abaixo do esperado. A população das regiões mais afastadas dos grandes centros continua sendo a mais afetada com os aumentos. Na tentativa de minar as mobilizações contrárias ao reajuste, o governo anuncia a medida às vésperas do Carnaval e numa data ainda distante do período eleitoral.

O Movimento Passe Livre expressa seu repúdio ao aumento das tarifas e também à lógica de tratar o transporte não como direito, mas como mercadoria. Um transporte público de verdade é um transporte sem exclusão, que possibilite um real acesso à cidade. Todo aumento de passagens torna mais pessoas excluídas e diminui a possibilidade de mobilidade urbana.

Por uma vida sem catracas e com transporte público gratuito e de qualidade.

Movimento Passe Livre – São Paulo