Por Alexandre Ferreira, do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade – Democrático e Independente (MTL-DI)
O MTL-DI e o Sindicato Rural de Campo Florido vêm à público denunciar as relações de trabalho absurdas geradas pela cana-de-açucar, que há séculos gera pobreza para muitos e riqueza para alguns no solo brasileiro. Agora ela está de volta, mais forte que nunca como política nacional (Etanol e açucar).
O sol ainda não clareou e chegam mais algumas dezenas de trabalhadores, de diferentes partes do país com a esperança de trabalho. O pequeno município de Campo Florido no triângulo mineiro, não tem mais flores. Além dos quatro assentamentos da reforma agrária, algumas ruas de terra, um posto de gasolina sem cobertura e um pequeno comércio local, um imenso canavial fonte inesgotável de riqueza para a Usina e de brutal miséria para milhares de pessoas.
Estima-se que hoje Campo Florido, município de seis mil habitantes, tenha cerca de mil novos trabalhadores desempregados, número que vem engrossando com os que chegam diariamente. As condições de moradia são as mais precárias possíveis. Em uma pequena casa moram cerca de 15 trabalhadores, que pagam cerca de cem reais cada um, e o comércio local se inflacionou como nunca antes.
De onde surgiram essas pessoas? Mistério. A usina diz não saber. Alguns trabalhadores afirmam ter “chegado sozinho”. O fato é que uma multidão de sozinhos, arregimentados por ilusões, inclusive se endividando para pagar o transporte, estão desesperados, desempregados e sem ter como voltar para sua cidade natal, onde famílias esperam por seu sustento.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Campo Florido que vem denunciando esta situação, além de denunciar às condições de trabalho degradante, passou a ser atacado, como o causador do desemprego. Por exigir que as condições de trabalho garantidas por lei sejam cumpridas.
O Ministério Público do Trabalho, Promotoria de Uberlândia, recomendou que as Usinas e os seus fornecedores de cana contratem somente trabalhadores com residência fixa em Campo Florido (com comprovante de residência/eleitoral). Mas a cidade não tem o número de trabalhadores suficientes. Então passa a ser dever das empresas contratarem os trabalhadores em seu local de residência, pagar seu transporte (ida e volta), fornecer alojamento e condições dignas de trabalho. Por essa posição o Ministério Público também vem sendo criticado.
Fica necessário perguntar: quem lucra com essa situação? O grande número de desempregados que puxa os salários ao chão; a vantagem de não precisar buscar os trabalhadores; tudo isso interessa a quem? Os trabalhadores, o STR, movimentos sociais como o MTL-DI, não ficarão parados. A luta contra 500 anos de devastação feita pela cana-de-açúcar e da exploração de nosso povo não acabou, e só terminará quando as flores estiverem novamente crescendo em Campo Florido e onde houver o latifúndio.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Campo Florido: uma cidade devastada pela cana
Publicado Por Terra Livre às 08:06
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