MTL-Democrático e Independente

O Movimento Terra, Trabalho e Liberdade - Democrático e Independente (MTL-DI) é um movimento popular autônomo e independente de partidos e governos, que organiza trabalhadores do campo e da cidade, por terra, moradia e vida digna.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Polícia violenta moradores em reintegração de posse

MTL-DI: Solidariedade às famílias despejadas em São Paulo.


Eduardo Sales de Lima
Agência Brasil de Fato


Em clima tenso, uma parte dos 4 mil moradores da favela Real Parque, Zona Sul de São Paulo, sofre ação de reintegração de posse desde a manhã desta terça-feira (11). Um grupo bloqueou por algumas horas o tráfego na pista expressa da Marginal Pinheiros, uma das principais vias da cidade. “A favela está cercada e os policiais tomaram todos os becos. Estão derrubando os barracos com todos os objetos dentro”, afirmou ao Brasil de Fato Paula Tadaka, integrante do movimento hip-hop e que se encontrava no interior da favela. A Real Parque não possui uma associação de moradores.

Segundo ela, a prefeitura de São Paulo mentiu quando informou que teria enviado um representante para entregar o documento da reintegração de posse e que os moradores não a teriam deixado entrar na favela. “Ninguém da prefeitura propôs uma alternativa de moradia às pessoas, que estão sendo mandadas a albergues”, denuncia Tadaka.

O terreno ocupado pelas famílias pertence à estatal paulista Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE), que conseguiu na Justiça a reintegração. O mandado judicial foi expedido em 9 de novembro pelo juiz Edson Luiz de Queiroz, da 3ª Vara Civil do Fórum Regional de Santo Amaro.

“Limpeza Urbana”

Enquanto a mídia corporativa destacou ao longo do dia que a reintegração de posse e a manifestação dos moradores da favela Real Parque provocaram congestionamento de mais de 30 km em toda capital paulista, o processo de reintegração gerou mais problemas. A truculência da ação policial deixou diversos feridos com bala de borracha e estilhaços de gás lacrimogênio.

O bloqueio total da Marginal Pinheiros durou cerca de cinco minutos, tempo suficiente para que a polícia reagisse usando gás de pimenta. O capitão que comanda a ação negou que a ocorrência de agressões e afirmou que o maior problema era a presença de mulheres e crianças.

Gisele Vieira de Lima era um desses problemas do capitão. Foi ferida nas nádegas e na perna com balas de borracha e no joelho com estilhaços de bomba de gás lacrimogênio. No final desta tarde, dentro da favela, os policiais alternavam momentos de ataque e de calmaria. Segundo o sociólogo Tiarajú Dandréa, que estava presente no local, uma moradora da favela teve aborto espontâneo em conseqüência da repressão policial.

Tiarajú seguiu, nesta tarde, com um grupo de moradores feridos da Real Parque até a Defensoria Pública de Santo Amaro para relatarem a repressão do Estado. Depois, foram até a 3ª Vara Civil do Fórum Regional de Santo Amaro para pedir um “ato desagravo” sobre a reintengração de posse e interromper a ação. Para ele, a ação faz parte de uma política de limpeza urbana, instituída pelo atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL), sobretudo na região sudoeste da capital paulista.


Área reintegrada do Real Parque permanecerá vazia

A estatal proprietária do terreno, Emae, pretende colocar vigilantes no local para impedir ocupações; mais de mil famílias ficarão desabrigadas

Eduardo Sales de Lima
Agência Brasil de Fato


A estatal paulista Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), ligada ao governo de José Serra (PSDB), não tem planos para utilizar a área de onde mil famílias estão sendo despejadas, na favela Real Parque, zona sul de São Paulo.

A informação foi confirmada pelo setor de Comunicação da Emae. "Ainda não há planos para o terreno. A área será cercada e haverá vigilância 24 horas", diz resposta encaminhada à redação do Brasil de Fato. A Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo também declarou que não existem, até o momento, projetos para a área. “É uma área de risco e a entrada do período chuvoso poderia desencadear desabamentos", justificou a Emae. No entanto, algumas famílias estavam no local há mais de 10 anos.

Na quinta-feira (13), moradores fizeram uma manifestação em frente ao prédio da estatal. A segunda fase do despejo de parte da favela Real Parque estava prevista para esta sexta-feira (14), mas segundo informações do sociólogo Tiarajú Dandréa, a EMAE garantiu à defensoria pública que não ocorrerá ação de despejo pelo menos até a próxima sexta-feira, 21. Na primeira, das três fases de reitegração de posse programadas, 70 famílias foram desabrigadas com truculência pelos soldados da Polícia Militar. Barracos foram queimados e moradores ficaram feridos com bala de borracha e estilhaços de gás lacrimogênio. Em meio à violência, uma grávida sofreu aborto espontâneo. No total, mil famílias serão despejadas.

Um grupo de 80 moradores realizou também outro protesto, na quarta-feira, 12, em frente à Prefeitura de São Paulo para pedir uma audiência com o prefeito Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL). Depois de duas horas de chuva, receberam a informação de que não seriam recebidos. Também não teve sucesso a tentativa de diálogo com representantes da Secretaria de Habitação.

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